A reportagem "Escorpiões se tornam a maior ameaça peçonhenta do Brasil, com mais de 500 picadas por dia", de Anna Gabriela Costa, destaca a crescente ameaça representada pelo escorpião-amarelo (Tityus serrulatus) no Brasil. De acordo com o texto, a urbanização descontrolada e o aquecimento global têm impulsionado a proliferação desse aracnídeo, agora responsável pelo maior número de acidentes fatais entre animais peçonhentos no país. Em 2023, mais de 200.000 casos de picadas de escorpião foram registrados, uma média de quase 550 incidentes diários, colocando uma pressão significativa sobre o sistema de saúde pública.
O escorpião amarelo, espécie dominante no sudeste e centro-oeste do Brasil, se destaca por seu alto grau de periculosidade. Este aracnídeo é conhecido não apenas por seu veneno poderoso, mas também por sua capacidade de reprodução assexuada, o que agrava o problema de controle populacional. Essa forma de reprodução, chamada partenogênese, permite que as fêmeas gerem descendentes sem a necessidade de um parceiro, facilitando sua disseminação rápida e eficaz em ambientes urbanos (Costa, 2024).
Outro fator que contribui para o aumento da população de escorpiões é a adaptação às
condições ambientais geradas pelas mudanças climáticas. Segundo Thiago Chiariello, coordenador do laboratório de antídoto do Instituto Butantan, “o aquecimento do habitat aumenta o metabolismo dos escorpiões, tornando-os mais ativos e aumentando sua taxa de reprodução” (Costa, 2024). Além disso, a expansão das áreas urbanas reduz a presença de predadores naturais e aumenta a disponibilidade de alimentos, como baratas, que compõem a dieta desses animais. Isso cria um cenário ideal para o crescimento populacional dos escorpiões nas cidades brasileiras.
Em 2022, as picadas de escorpião foram responsáveis por 152 mortes, superando os óbitos causados por picadas de cobras, que registraram 140 casos no mesmo ano. Essa estatística representa uma mudança significativa, uma vez que, em 2019, as picadas de escorpião resultaram em 95 mortes, mostrando um aumento expressivo nos últimos anos. Esse crescimento é atribuído, em grande parte, ao rápido aumento da população de escorpiões e à falta de medidas eficazes de controle, exacerbada pela reprodução assexuada do escorpião amarelo (Costa, 2024).
Para conter os efeitos das picadas, o antiveneno é essencial no tratamento de casos graves. No Instituto Butantan, o soro antiescorpiônico é produzido a partir da extração de veneno de escorpiões vivos, que é injetado em cavalos para estimular a produção de anticorpos. Esses anticorpos são então purificados para a criação do soro, que representa a única forma eficaz de tratamento para vítimas em estado crítico. Paulo Goldoni, biólogo do Instituto, afirma que o soro “é a única maneira de salvar vidas” em casos graves, especialmente para crianças e idosos, que têm maior risco de desenvolver sintomas severos, como choque anafilático, edema pulmonar e falência cardíaca (Costa, 2024).
A reportagem de Costa destaca um cenário alarmante para a saúde pública brasileira, evidenciando a importância de iniciativas de controle populacional do escorpião amarelo, além do acesso adequado ao soro antiescorpiônico. A crescente urbanização e as mudanças climáticas são fatores que não apenas favorecem a proliferação dos escorpiões, mas também apresentam novos desafios para o manejo de espécies peçonhentas no Brasil, exigindo maior atenção das autoridades sanitárias e políticas públicas voltadas à mitigação dos riscos associados a esses animais.
Lembrando que teremos em janeiro nosso curso sobre Aracnídeos e insetos peçonhentos do Brasil
Referência Bibliográfica: https://www.terra.com.br/byte/escorpioes-se-tornam-a-maior-
ameaca-peconhenta-do-brasil-com-mais-de-500-picadas-por-
dia,f4a1570e5cf49824422f660748a6bc33lrykvfoj.html
Texto: Douglas Siqueira da Costa - estagiário da Bioconservation
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